DENTRO DO LIVRO HAVIA UM BOSQUE
(Diário sobre uma micro narrativa fotográfica)
As imagens apresentadas referem-se a:
Um viajante.
Um bosque. Uma leitora.
Não me lembro por qual motivo fui ao arrozal.
A deriva trouxe apenas surpresa e confirmação sobre a minha ignorância. Eu trazia uma velha câmera, o objeto gracejado pelos japoneses.
…
Após pouca caminhada, junto às urnas, fiz uma pausa e almocei com os mortos.
Pela via cercada com prismas opacos, deixei um ou dois reflexos nos espelhos instalados pelas beiras.
Logo mais, os sons de longe, emitidos pelos alto-falantes da escola, pareciam ordenar a trama que os uniformes negros formavam sobre a quadra. Esperando alcançar outras passagens, subi em direção ao ponto mais alto do morro, antes das nuvens, entre plano e topo.
A leitora no caminho:
sapatos, meias, uniforme, galhos, o livro que lia,
páginas, intervalo separado pelos dedos,
prolongamento infinito da aproximação.
Estrangeiro, acenei sugerindo uma foto.
Sem pose, ela talvez consentiu.
Estimei minha distância em bifurcação:
uma imagem frontal e outra lateral.
Pontos na vista, recordei Akutagawa.
Segui para dentro de um bosque.
Não sei por quanto tempo.
…
Retornei ao lugar do desígnio.
O instante não foi único.
No espaço da sua ausência,
eu fui tantos outros quanto foram aqueles nas páginas que leu.